Et si tu n'éxistais pas - Joe Dassin

Lover Why

domingo, 16 de março de 2008

Caprichos de Amor: Segunda, 30 de Julho ( 14º DIA )

Segunda, 30 de Julho
( 14º DIA )



Aquela última semana de férias, começava às mil maravilhas para a célebre jornalista. O carinho com que o marido a tratara ingenuamente na véspera e a paixão confessa que, tal vulcão sonolento, amadurecia no coração do Rui, eram fantasmas com que ela se deleitava novamente, como nos tempos em que, para pagar as propinas e as outras despesas académicas, cedia, quando a necessidade apertava, ao assédio sexual de professores e de senhores de boas famílias, a quem esposas de conveniência, por vezes cheias de patacas, mas carentes de amor, não sabiam seduzir ou, tampouco, tornar felizes. Quisera o destino perdoar-se pela morte dos pais, quando criança, e redimi-la do pecado, em que a fizera tombar, cruzando o caminho dela, tantas vezes à beira do suicídio, com o do arquitecto Félix Fontoura, também ele vítima do mesmo fado cruel. Inconsolado durante uma década de mórbida e resignada castidade, o infeliz viúvo encontrara na frontalidade sentimental da viva e desinibida estudante, mais do que no seu corpo esbelto e sedutor, o fascinante complemento que jamais ousara procurar. Os pólos da gaiata e do velhote tocaram-se e a união no Registo Civil foi o seguimento mais lógico para ambos. No mês em que vivera maritalmente, o arquitecto recuperara a alegria de viver e ela, enobrecida pela celebridade do Dr. Fontoura, limpara as nódoas que manchavam algumas páginas do livro da sua vida atribulada, assegurando um futuro risonho e, sobretudo, muito mais digno. Depois, concluindo brilhantemente os seus estudos universitários, Dina, purificada pelo sofrimento, tornara-se a senhora jornalista que os portugueses tanto amavam.
Agora, que o marido, amiúde impotente, parecia abdicar definitivamente da paternidade, ela via-se forçada a renunciar à consequente maternidade e sentia uma frustração tão grande que a instabilidade emocional e psicológica se enraizara no seu peito, obrigando-a a uma descompressão fisiológica que perturbava o débil e ténue ritmo afectivo do arquitecto. Era, pois, no recôndito dos seus mais íntimos segredos que Dina encontrava a resposta para tantas questões que a sua consciência pecadora lhe devolvia incessantemente. Se Deus era assim tão cruel, julgando-a indigna da felicidade maternal, - pensava - haveria de se desforrar, saciando plenamente, uma vez por todas, os fantasmas e caprichos libertinos que arrastava consigo. E aquela tácita cumplicidade do marido, que lhe pedia para viver e agarrar a felicidade com ambas as mãos, só a encorajava a ceder, de facto, mentalmente que fosse, aos assédios da imoral poliandria.
Proibida de amar quem mais a desejava, e dilacerada por esse infamante tabu incestuoso, Dina passara a viver em permanente ubiquidade sentimental, fingindo estar onde não estava e pedindo, a quem não devia o que mais intensamente poderia e queria, mas moralmente não podia dar. Por sua vez, Rui Patrício, tal Adão no Éden, sentia-se terrivelmente tentado por dois frutos proibidos: um que já estava potencialmente maduro, mas psiquicamente inseguro, enquanto que o outro, fisiológica e sentimentalmente, não conseguia livrar-se da maldita reprovação social, apesar da aprovação explícita do marido, complacente prisioneiro do passado.
Apenas acordou, Dina espreguiçou-se e, descobrindo um bilhete do marido, foi esvaziar a bexiga. Depois, cobrindo-se com um manto turquesa, espreitou para o quarto do afilhado, encontrando-o a delirar. Entrando em pés de fada, correu as persianas e, assentando-se majestosamente ao seu lado na borda da cama, acariciou-lhe os cabelos. Contemplativa por instantes, ela beijou-lhe levemente os lábios. Sentindo-lhe a epiderme sensual, ele arrepiou-se e, abrindo os olhos, suspirou baixinho, fitando-a, enamorado de morrer:
― Oh, Dina, meu amor!
― Tchut! Beija. Isso, assim!... ― implorou voluptuosamente, colando-lhe o busto nos lábios para que ele lhos beijasse, mordesse ou fizesse o que quisesse.
Enlouquecido, o adolescente ajustou-se à altura do busto e chupou-lhe os seios timidamente, fazendo-lhe endurecer os mamilos. E, afoitado por uma erecção repentina, ele deslizou a mão trémula por entre as coxas dela, afagando-lhe a zona púbica e tacteando-lhe o triângulo genital. Desnudando-o excitada, ela apalpou-lhe o membro viril e, sentindo-o duro soltou um suspiro que ecoou pela pantanosa fenda vaginal. Amedrontados pelo ruído providencial do Mercedes que entrava na cerca, eles titanizaram-se e rejeitaram-se aflitos. Enquanto ela se refugiou no banheiro onde resfriou os ardores, ele trancou-se para poder domar a fúria viril, mas acabou por desistir, tentando recolar o fio do sono para saber o fim do sonho. Como a sonolência o largasse definitivamente, levantou-se e fechou-se no banheiro, tomando um duche de chuveiro.

Naquele primeiro dia da semana, o adolescente só desceu para almoçar. À mesa, o arquitecto, que os afazeres iriam absorver a semana inteira, recordou à esposa que só tinha mais quatro dias para aprender a nadar e pagar, se fosse o caso, a merecida recompensa ao afilhado. Desculpando-se, ela retorquiu-lhe que não tinha tido sossego e que a água fria das praias não convidava nada a lições muito prolongadas, mas prometeu que iria fazer o possível para não o decepcionar. Como o marido insistisse Dina sugeriu-lhe um fim-de-semana prolongado no Algarve, onde a temperatura amena e as ondas mansas lhe permitiriam passar mais horas na água e certamente obter outros resultados, e que ele, afinal tão exigente, também nunca arranjava tempo para a acompanhar. O arquitecto deu-lhe carta branca, mas ela recusou-a pronta e peremptoriamente. Obviamente, não podia alimentar a suspeição, mesmo se tal fosse o seu maior desejo naquela hora.

Depois do almoço, o Dr. Félix fez questão de lhes disponibilizar a viatura, aproveitando para retocar o dossiê de Alcabideche. Acenando-lhes da janela do escritório, ele atirou um beijo à esposa e correu a debruçar-se sobre os planos da aldeia S.O.S.
Na Marginal, a chama do prazer não tardou a atear os corpos flamejantes e a reacender aquele fogo passional que tão violentamente devorava as entranhas daqueles dois seres órfãos, que um vulcão irracional ameaçava consumir. Livre como uma gaivota, ele não se fez rogado, nem lhe pediu licença para a acariciar nos joelhos e pelas coxas acima, ou lhe tactear o busto, embalado pelo romântico e sensualíssimo Only You dos Platters e o transcendental When a man loves a woman do Percy Sledge, que a fez atingir o clímax muito mais depressa. Subjugada por uma excitação torrencial, que a aparição do pénis fez transbordar, Dina, controlando o carro com as duas mãos, virou à direita e, depois de rolar quase um quilómetro por um pinhal que delimitava o campo de golfe, sempre intumescida pelos dedos varonis, foi imobilizar-se à sombra, de uns pinheiros, longe do caminho dos transeuntes.

Agarrando a mão do seu cupido, ela convidou-o a assentar-se no banco de trás para, depois de ambos se despirem apressada e furiosamente, iniciarem um ritual delirante, beijando-se mutuamente na boca, no pescoço, no peito, no ventre e na cintura pélvica. Enlouquecido por tão delicioso corpo, o conquistador beijou-a rapidamente dos seios até ao umbigo e, ajoelhando-se entre os bancos, abriu-lhe as coxas. Depois, loucamente excitado pelos suspiros, pelos gemidos e os gritos da deusa das suas noites que, transpirando, ora se debatia e agarrava onde podia, ora lhe forçava a cabeça contra a vulva, indicando-lhe o capiloso e negro monte de vénus. Banhado em suor e sufocado pelo calor do carro, ele parou uns segundos para respirar e ganhar outro fôlego, mas ela, felina, virou-se e, indicando-lhe o banco, deitou-o de costas, libertando-lhe o pénis. Depois, desflorando-lhe a glande, baixou-se para uma felação enérgica, que fez contorcer e tornear o cupido, alucinado por uma incomensurável e indescritível sensação de prazer e felicidade até ali nunca experimentados. Pressentindo a ejaculação, ele fê-la parar e, olhando-lhe a nudez desvairada, deitou-a de costas, enfiando-se-lhe entre as coxas. Depois, introduzindo-lhe o duro pénis na vagina molhada, iniciou um vaivém impetuoso. A fricção viril, extasiada pelos trejeitos e os suspiros dela, fê-lo gemer também e sussurrar ui-ui-que-bom-ui e és-tão-boa-ai-ai-ui, seguindo a cadência do coito. O ponto de não retorno, apesar de indomitamente adiado, acabou por lhe iludir a vigilância, obrigando-o a acelerar vertiginosamente o vaivém, quando o sentiu inevitável, e explodir torrencialmente, inundando a vagina de sémen. Cansado, ele deixou-se cair e colar suavemente os pêlos do peito ofegante nos seios amassados. Fixando-a demoradamente, o rapaz, ipso facto homem, repousou então a cabeça no peito arquejante daquela mulher de sonho e, mirando-a feliz, murmurou:
― Amo-te tanto, Dina!
― Eu também te amo, Rui! ― disse confusa, beijando-o na testa e passando-lhe os dedos ao longo do corpo.
― Que bom! Nunca pensei que o amor fosse assim...
― Tchut, sim o amor é muito lindo.
― O que vai ser de nós? ― perguntou atormentado, sentindo-a alheia.
― Não sei, Rui, mas é melhor nem pensar...
― Tomaste a pílula, Dina?
― Sim, não te preocupes. Ui, é tão bom sentir-te assim colado a mim até ao fundo! ― bradou ela, forçando-lhe as nádegas para que a glande não a largasse.
― Que seja o que Deus quiser ― disse resignado.
Inertes, eles aguardaram que o suor lhes secasse na pele e, recompondo-se, regressaram à estrada, tomando a direcção do Guincho. Instintivamente, Dina estacionou a viatura no mesmo lugar da última vez. Um sorriso cúmplice iluminou-lhes o rostos, mas não lhes tirou a sombra do pecado. O cantinho da primeira vez lá lhes estava reservado. Entretanto, um vento árido afugentara a meia-dúzia de turistas estrangeiros que ali se quedara no princípio da tarde. Apenas largaram a trouxa, foram lavar os rastos do adultério e mergulhar o cérebro nas ondas frias. Depois, assentando-se mudos, enxugaram-se mutuamente e, olhando-se divertidos, tentaram esquecer os momentos de inefável perdição, mas em vão. De mãos dadas, contemplaram o mar bravo e recordaram silenciosamente a fúria passional que, uma hora antes, lhes electrocutara a alma.

Às cinco da tarde, Rui Patrício comprou dois gelados, que eles consumiram com lambedelas maliciosas, empiscando-se, olhando-se de soslaio e mostrando-se mutuamente a ponta da língua. E, deitando-se de bruços, confessaram-se baixinho os sentimentos e as sensações que haviam sentido no banco do Mercedes. O inexperiente mancebo, notara que ela tivera sucessivos orgasmos durante o coito e mantivera cada vez mais acesa as labaredas da paixão, enquanto ele, que só tivera um, morrera pouco depois. A esta e outras curiosidades, Dina foi respondendo sempre com a maior naturalidade.
Durante o regresso, eles combinaram adoptar, doravante, uma postura discreta, evitando disputas assassinas ou olhares comprometedores. É que, mais que tudo, deviam, por enquanto, salvaguardar as aparências, esperando que o tempo tivesse pena e os ajudasse a ultrapassar corajosamente tudo e todos.

Apenas chegaram, Rui Patrício foi, como era hábito, lavar o sal com a mangueira do jardim, deixando o chuveiro para a madrinha. Depois, vestindo as calças do fato de treino, comeu uma pêra no terraço, enquanto os padrinhos conversavam jovialmente no escritório. Espiando-os pela vidraça, ele não resistiu aos ciúmes e, para não se enervar ainda mais, retirou-se para a cozinha.

Entretanto, um programa de televisão, que queria ver absolutamente, serviu-lhe de pretexto para comer à pressa, evitando assim o olhar do arquitecto.
Depois do jantar, quando o foram visitar, os padrinhos encontraram-no a dormir como um anjo no sofá. Cortando o som ao ecrã para não o assustarem, eles acordaram-no devagarinho e, erguendo-o sonolento, amparam-no até ao quarto, metendo-o entre os lençóis. A entreaberta gaveta da mesinha de cabeceira espevitou-lhes a curiosidade. Abrindo-a cuidadosamente, pegaram nas folhas e leram os primeiros versos das derradeiras poesias eróticas que a Dina e a Cris lhe haviam inspirado. E, vendo-o dormir como uma pedra, levaram-nas.

Na solidão da noite, as palavras mágicas tiveram outro encanto. Só um coração apaixonado, como o do pobre rapaz, poderia sentir e escrever coisas tão lindas. Coitado, como deveria sofrer! Se calhar era, na poesia e no sonho, que ele se refugiava e cicatrizava as chagas da orfandade

continua em: Terça, 31 de Julho ( 15º DIA )

Caprichos do Amor / Lmp, luxemburgo - 1996 / Lud MacMartinson

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